quinta-feira, 16 de novembro de 2017

UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE "RACISMO"






Tratei na minha postagem RETORNO, entre outros temas, do "racismo".

Este assunto que assumiu grande evidência, após um conceituado âncora da globo ter sido gravado, um ano atrás, fazendo comentários de cunho racista quando se preparava para gravar o seu programa, em frente à Casa Branca, onde iria fazer a cobertura das eleições presidenciais naquele país.

Fiquei intrigado com o motivo da demora de um assunto desse, de certa forma grave, demorar tanto tempo para vir à público. O termo "de certa forma" que uso, merece um apêndice, uma explicação.

Vamos primeiro ao fato: Enquanto o âncora e seu entrevistado estavam se pondo a postos para o início da entrevista, a equipe técnica tanto no local, como aqui no Brasil, ajustava os equipamentos. Eis que se ouve ao longe um som de buzina estridente e constante. O âncora, que já estava quase pronto para a gravação, se volta na direção de onde o som esta sendo gerado, vê quem está buzinando e olhando para o seu entrevistado diz: COISA DE PRETO.
O colega não entende ou faz que não entende e o âncora, agora rindo e com ar de deboche, repete o que houvera dito, e os dois riem.
O operador do som, um negro, teve este áudio gravado em seu equipamento.  Surpreso com o comentário racista que acabara de ouvir, comentou com os colegas sobre o que havia gravado mas não encontrou receptividade para levar o caso adiante.
Esse comportamento se enquadra naquela condição que tratei na postagem referida onde as piadas eram feitas e entendidas como brincadeiras, de mau gosto, mas brincadeiras. E que hoje já existe uma reação por parte de quem se sente ofendido ou injuriado com tais comportamentos.
O operador dá uma série de justificativas para o assunto não ter ido adiante, inclusive a de que o equipamento fora perdido.
Agora um ano depois e já fora da emissora (fora demitido) consegue recuperar as imagens e o som e trouxe o assunto para a vitrine.
Existem outros detalhes sobre como tudo isto aconteceu mas não é importante para o que pretendo comentar.

O racismo entre nós sempre existiu e sempre foi aceito e tolerado como natural. Desde casa,   passando pela escola e até no trabalho, esse comportamento só se acentua. Ultimamente o assunto tem se feito presente em quase todos as redes sociais. Tenho lido e visto toda espécie de explicação para tais comportamentos.

"Somos todos mestiços" ouvi sendo dito por ninguém menos do Chico Buarque ao ser entrevistado a respeito da repercussão do tema. Ele foi mais além dizendo que depois de tanto tempo ninguém no Brasil pode se dizer branco. Disse também que por motivo desse seu posicionamento, ao entrar por estes dias em um restaurante, certamente chique, foi surpreendido por uma senhora, segundo ele "com os cabelos pintados de amarelo" que gritou, de certo, em sua direção: "eu sou branca", ele não disse e se disse não percebi, apenas olhou e riu.
Esses comentários eram feitos a propósito do que ele diz enfrentar, por ter uma das filhas casada com um negro e por consequência a descendência a partir daí traz a marca explícita e sujeita às gracinhas geralmente sem graça. Ele fazia a defesa da mestiçagem de forma ardorosa e consciente.

Nesse ponto concordo pois faço parte dessa, maioria/minoria, que enfrenta desde sempre este problema. Me permito fazer uso de uma entrevista concedida ao jornalista Paulo Henrique Amorim ao seu programa "conversa afiada", pelo professor Fabio Konder Comparato onde fala em seu livro a Origem da Oligarquia Brasileira - uma visão histórica -  de casos e situações que explicam de onde vem tanto ranço.

Essa entrevista está dividida em três partes, nessa primeira parte o jornalista questiona dele como explicar essa origem e como ela nos afeta nos dias de hoje principalmente na parte do racismo.
Segundo ele tudo vem de como foi iniciada a colonização onde o desprezo pelo índio e pelo negro por parte dos poderosos de então, deu o tom de toda essa situação contemporânea.
Claro que o livro trata do assunto com profundidade, o que me interessa ressaltar é como foi difundido e aceito por parte dos escravizados primeiro, e pelos seus descendentes depois, desse jugo que, de forma diferente, acontece ainda.
Se fala da síndrome de Estocolmo que é aquela onde um sequestrado ao final se torna amigo e defensor do sequestrador. Acho que aqui se deu esse fenômeno pois não era difícil se encontrar entre negros quem valorizasse, defendesse e até justificasse todas as arbitrariedades que se fazia e ainda se faz.
Senão, como justificar tanto acobertamento e tantas injustiças que às escancaras acontecem e por isso mesmo ficam; sem que haja a devida reação por parte dos que estão sendo ofendidos. Muitos deles agem como se não estivessem fazendo parte do todo.

O Chico, na entrevista a qual me referi, dá a entender que a não existência dos brancos é, de certa forma, como se fossem diferentes. E é a isso (ser diferente) que me contraponho; não consigo ver o ser humano diferente um do outro.

Vejo, e é natural, que origens diferentes e educações diferentes conduziram a humanidade aos mais diversos destinos e motivações. Não vejo na mestiçagem ou na falta dela, qualquer acréscimo ou decréscimo a este o àquele grupo.

O momento está muito propício para o aprofundamento deste tema, na próxima semana (dia 20 de novembro) se comemora o dia da consciência negra. Será uma boa ocasião para se aprofundar e discutir o que é necessário ser feito para que esta nódoa que existe e que resiste, seja enfrentada sem hipocrisia.


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